sexta-feira, 15 de junho de 2012

Patrimônio Cultural do Vale Histórico Paulista: Análise da Vulnerabilidade às mudanças Climáticas



  
  
Pesquisadora responsável: Silvia Helena Zanirato

Escola de Artes, Ciências e Humanidades – USP – Universidade de São Paulo.

A pesquisa aqui proposta tem como referência estudos semelhantes aos realizados pelo grupo do Noah's Ark, da Universidade de Bolonha, a respeito do impacto das mudanças climáticas ao patrimônio mundial existente em solo europeu. O Noa's Ark é um projeto desenvolvido por uma equipe liderada por Cristina Sabbioni, do Instituto de Ciência da Atmosfera e do Clima, da Universidade de Bolonha, e que contou com o financiamento da União Européia. Nesta pesquisa buscou-se identificar os parâmetros metereológicos e climáticos que se mostram críticos à conservação desses bens nos próximos 100 anos. (Noah's Ark, 2007; Sabbioni; Bonazza; Messina,2007).

A investigação fez um estudo dos eventos climáticos como chuva, neve, ventos e dos principais fenômenos que podem acarretar na degradação dos materiais de construção e suas estruturas. O projeto se voltou ao desenvolvimento de estratégias para adaptar os monumentos em áreas onde os efeitos das alterações climáticas tendem a ser mais negativos.

A pesquisa aqui proposta ao Vale histórico tem semelhante preocupação, mas acaba que se distingue na fundamentação dos argumentos, pois estes vão além da importância da manutenção e conservação do patrimônio material em face da Antiguidade, estética e excepcionalidade, na medida em que levam em consideração também a dimensão social e intangível dos bens patrimoniais do Vale Histórico.

Fundamentação:
Fundamenta-se a pesquisa na preocupação com a conservação do legado cultural, histórico e arquitetônico do Vale Histórico paulista que enfrenta várias dificuldades para sua manutenção e uso, sendo que as mudanças climáticas regionais, associadas com fenômenos globais, poderão determinar maior fragilidade e amplificar o risco de perda.
A dimensão Histórico-artística dos bens no Vale histórico apresenta-se como uma particularidade única na medida em que considera o bem como expressão de um passado singular, pertencente a uma dada comunidade. A possível perda deste patrimônio se mostra como uma lamentável ruptura com o passado e justifica a reivindicação da proteção, apoiada na denúncia da deterioração dos bens, sem entrar no mérito dos efeitos sociais consubstanciais ao processo de desaparecimento de tais bens.
A pesquisa e investigação aqui proposta trata o patrimônio vinculado a um dado território: Um lugar histórico que dá sentido à comunidade que nele vive.


   A proposta considera tanto os aspectos formais como os usos sociais, reconhecendo a importância dos bens porque muitos são moradias de pessoas, locais onde se estabelecem relações sociais e que têm também o patrimônio edificado como um atrativo turístico regional. As mudanças climáticas podem tanto prejudicar quanto inviabilizar o patrimônio como moradia ou como uma fonte de atração turística.

Degradar ou perder esse patrimônio edificado significa por em risco habitações e empregos gerados pelo turismo nas localidades examinadas.


Desafio:
O desafio a ser enfrentado é o de incluir a dimensão humana no projeto e assim sensibilizar gestores públicos a liderarem de forma mais ativa com o risco e a incerteza dos efeitos dos efeitos das alterações climáticas sobre os bens que compõem o patrimônio cultural e que se desdobram em questões técnicas, políticas e éticas, que envolvem a salvaguarda de bens culturais em face da percepção de riscos, pois "existe o dever de encontrar meios que evitem os danos potenciais, mais do que buscar controlá-los e geri-los a posteriori" (Reichmann, 2002,p.25).



   
Região a ser estudada:
Vale Histórico paulista: Queluz, Silveiras, Areias, São Jose do Barreiro, Arapeí e Bananal.


Planalto SE do Brasil, no sopé da Serra da Bocaina, dentro da área abrangida pelo médio Vale do Rio Paraíba do Sul – Vale Histórico Paulista;

  • Municípios considerados de alta vulnerabilidade (exposição e susceptibilidade) às mudanças climáticas em face a maiores médias de precipitação;
  • Maiores intensidades de raios ( ALVES e OJIMA, 2008, p.14);
  • A perturbação do ciclo da água em associação com (e decorrente de ) alterações térmicas pode ser considerado como um dos maiores responsáveis pela degradação de edificações, seja por conta do efeito direto da água nas precipitações e nas inundações, seja pelo vapor de água no ar.

 A presença de umidade produz diversos efeitos segundo a natureza do material: oxidação e corrosão;
Madeira: constituídas por fibras higroscópicas esta drasticamente sujeita a absorção e dessorção de água em função da umidade relativa do ar, e dessa forma, sofre ciclos de expansão e encolhimento que – ao longo prazo – induzem rachaduras de diferentes graus de amplitude;


 A esse efeito associa-se a ataque por parte de insetos xilófagos ( cupins e brocas), micro-organismos ( fungos e bactérias) e ervas daninhas, que também são fatores de agressão física fortemente dependentes de umidade e temperatura ( Griffin, 1977)




Objetivos da Pesquisa
Etapa 1
Identificar,
Mapear e
Caracterizar bens culturais e materiais em termos dos tipos e das quantidades de materiais estruturais (alvenaria, madeira, metais, tecidos,...) e suas condições atuais de conservação;
Apresentar dados metereológicos IN SITU para caracterizar condições micro climáticas atuais da região selecionada – Vale Histórico;
Elaborar um estudo minucioso dos cenários presente e futuro (2012 – 2100)



Etapa 2
Avaliar a vulnerabilidade e os riscos para a integridade física das edificações dentro dos cenários climáticos projetados para a região do Vale Histórico até fins do século XXI;
Estudar especificamente a ocorrência de microorganismos (fungos e bactérias) prejudiciais às madeiras e outros tipos de materiais afins (celulose e derivados) por representarem elementos de degradação de elevada agressividade no contato do clima tropical e sub tropical e investigar alterações em sua taxa de crescimento frente às mudanças de temperatura, umidade relativa e seus ciclos temporais;


Organizar conhecimentos científicos sobre o comportamento físico-químico dos materiais de interesse frente aos diferentes fatores climáticos;
Etapa 3
Delinear diretrizes de políticas públicas para a contenção de danos;
Planejar antecipadamente medidas necessárias para a adaptação e mitigação.

Metodologia:
Os procedimentos teóricos-metodológicos terão como referência o modelo proposto por Silvia Rocha (ROCHA 2011) que permite identificar critérios, categorias e procedimentos para registro, classificação e cadastro dos bens patrimoniais.
  • Modelos para estudos em tempestades:
1-) HadAM3
2-) ECHAM5
3-) RegCM3
  • Somatória e cruzamento em Matizes Clima X Sensibilidade dos materiais
  • Avaliação da contaminação microbiológica do ar (com foco em espécies potencialmente prejudiciais à madeira)
  • Avaliação das que aparecem de maneira mais significativa às alterações climáticas projetadas.


Etapa 1

  • Amostragem realizada pelo método de sedimentação gravitacional em placas petri abertas e contendo meio de cultura apropriado;
  • Placas incubadas em estufa bacteriológica;
  • Após crescimento e surgimento de fungos e bactérias as características culturais e o numero de unidades formadoras de colônias (UFC) serão determinadas;
  • DNA genômicos de microorganismos;
  • Genes de 16SrRNA de bactérias;
  • Internal transcribed spacer (ITS) de fungos;


    Os produtos e resultados serão sequenciados na central Analítica do Instituto de Química – USP.

    Identificação taxonômica dos microorganismos:
    Programa RDP (HTTP://www.simo.marsci.uga.edu/public_db/rdp_query.htm) e base de dados de rRNA (Genbank, NCBI, USA).


    Etapa 2
    Ensaios laboratoriais simulando as condições climáticas (Umidade relativa do ar e temperatura) em câmaras climáticas trabalhando em linhas paralelas: Uma câmara atuaria como controle e outra simularia as condições de interesse, sendo ambas alimentadas por um único fluxo de ar previamente filtrado e purificado.


    Cronograma:
  1. Leitura pormenorizada da documentação referida às mudanças globais e aos riscos de afetação do patrimônio cultural material;
  2. Realização de visitas técnicas aos locais definidos para coletas de dados;


  3. Inventario do patrimônio cultural material existente nos 6 municípios do Vale Histórico;
  4. Seminário geral da equipe;
  5. Prognóstico de mudanças climáticas para a região em estudo;
  6. Caracterização dos fatores de risco presentes nos materiais que conformam o patrimônio cultural;
  7. Elaboração de um documento correlacionando os riscos que se apresentam aos materiais que compõem o patrimônio cultural, bem como das medidas adotadas para a adaptação e mitigação dos efeitos desses fenômenos nos locais selecionados;

 8. Apresentação dos resultados em conferências Nacionais e internacionais;

9. Produção de artigos com resultados parciais sobre iniciativas públicas destinadas a mitigar os efeitos das mudanças globais no patrimônio edificado;
10. Produção de artigos conclusivos para publicação em revistas científicas arbitradas;

11. Produção de um livro.


RESULTADOS ESPERADOS
  • Caracterização da situação atual do Patrimônio Cultural material do Vale Histórico do Estado de São Paulo e diagnóstico dos fatores de risco que podem comprometer sua sobrevivência;
  • O conhecimento dos riscos facilitará estratégias de monitoramento que possibilitam planejar antecipadamente medidas necessárias para a adaptação e mitigação;
  • Contribuição para a formulação de políticas de ordenamento municipal da ocupação urbana;

     
  • Políticas estaduais de gerenciamento, políticas de ações federais em torno de legislação e formulação de critérios de aplicação de recursos e financiamento;
  • Estratégias de gestão, políticas e mudanças comportamentais que possibilitem repensar a trajetória de desenvolvimento;
  • Formação de alunos em iniciação científica;
  • Articulação com centros internacionais que desenvolvem trabalhos sobre o tema, como o Consiglio Nazional delle Richerche , da Universidade de Bologna;
  • Publicações científicas (monografias, artigos em revistas, anais de conferências e um livro);
  • Participação e organização de conferências e reuniões de estudo; 

  • Produzir e disseminar conhecimentos que possibilitem a construção de ações que efetivamente contribuam para a salvaguarda do patrimônio cultural na região em estudo (Vale Histórico). 
     
    Ao se disseminar conhecimentos sobre as consequências das mudanças globais ao patrimônio cultural, contribui-se para que a sociedade, os governos, e empresas revejam atitudes e valores que construam alternativas e políticas públicas capazes de lidar com o desafio da proteção patrimonial (UNESCO, 2006).

Bases de estudo:
  • IPCC;
  • Núcleo de estudos estratégicos da Presidência da República;
  • Working Group On Climate Change and Development;
  • Equipe científica do subprojeto Caracterização do Clima Atual e definição das alterações Climáticas para o território Brasileiro ao longo do século XXI;
  • INPE – Projeções de alterações de temperatura e pluviosidade;
  • CEPTEC – Centro de Previsão de tempo e Estudos Climáticos;
  • Laboratório do Grupo de Estudos Climáticos do DCA – IAG – USP;
  • Estudos realizados pelo grupo Noah's Ark, da Universidade de Bologna e Instituto de ciência da atmosfera e do Clima.