terça-feira, 25 de setembro de 2012

Causos da Fazenda Santo Antonio da Cachoeira

Esta história tem como pano de fundo o Vale Histórico Paulista.
Mais ou menos lá pelos anos 30 chegava para o Dr Luiz Oscar de Almeida Maia uma carga viva de 90 éguas da melhor qualidade vindas de trem de São Paulo até a cidade de Queluz. Embora a chegada da estrada de ferro estivesse cada vez mais limitando o trânsito de tropas de mulas como meio de transporte,  ainda em nossa região, o costume ainda fazia poeira na estrada.
Quando carga grande de animais chegava assim, Zé Campeiro, Juvenal, Francisco Barbosa e Bem vindo já sabiam que os carrapatos iam aumentar nos pastos da Fazenda. Era um tal de viver coçando que só vendo! Os três trabalhavam na Fazenda Santo Antonio da Cachoeira. Zé Campeiro era o mais antigo e tambem o mais querido pelo dotô.Diziam que era ele descendente direto dos últimos escravos que sobreviveram à escravidão no Vale. Assim como muitos, ao encontrar casa grande com bom Senhor, estes fizeram dali sua morada. E novos dias foram apagando memória de um tempo que não merece ser lembrança.
 Juvenal era Jongueiro dos bons. Ao se ouvir meia duzia de bater de palmas no terreiro, lá ia ele chegando com sua ginga de pés descalços e paletó no dorso. Bem vindo lhe dava as boas vindas ao anunciar sua chegada. A toada ecoava aos ventos acordando Caxambus, candongueiros e pandeiros.
Junto com a criação chegava tambem a família. Dr Luiz já tratava logo de alugar a Jardineira do Clube dos 200 para assegurar o conforto da chegada de seus entes queridos. Da praça de Formoso até a travessia do ribeirão chegavam todos no veículo alugado. Dali pra frente era na Canela, de mula ou a cavalo. Quando vinha a familia toda era preciso o carro de boi ajudar a juntar a fiarada toda. Com carinho e muita paciência Zé Campeiro no colo a todos ajudava a travessar: Margarida, Ilka, Carmitinha,...Eram muitos! Entre legítimos e agregados, cartório nenhum no mundo garantiria maior autenticidade que seu imenso coração.
Francisco Barbosa e Bem vindo vinham com a carroça e o Dr Luiz em seu burro de estimação, o veado. O veado era um burro xique no úrtimo! Corpo bege por inteiro teve ainda um capricho no detalhe de seu rabo que era todo branco. O xodó era tanto que Ninguem, com exceção de sua pessoa, nesse burro montava.
Dr Luiz era Homem da Justiçá. Era homem respeitado não por ser temido. Seu respeito vinha do reflexo de sua indole . Só defendia quando era certo. "Fumus Boni Iuris". Sua labuta no ofício nunca teve como fim o capital. Suas causas eram verdadeiramente justas. E assim o Fórum de Bananal sempre ao seu dispor parecia estar. Muitas vezes nem era preciso ao Fórum chegar para que seu senso de justiça começasse a funcionar. Ai daquele que flagrado fosse maltratando algum animal ou castigando alguma criação. Peão apeava e seguia a pé sem nem ao menos poder se lamentar tal era o sabão que haveria de tomar.
Mas era na Fazenda Cachoeira que Dr Luiz faza mesmo jus aos seus dias de vida. Tratava de toda criação com maior zelo e carinho tendo sempre ao seu lado Francisco Barbosa e o fiel escudeiro Zé campeiro. No dia da Cruza Bem vindo e Zé Campeiro iam mais cedo que de costume ao batente. Na hora do acasalamento burro cego de amor vai com tanta vontade que as veiz demora a encontrar o caminho da dita cuja. Dr Luiz de perto aprecia a empreita e grita ao Zé Campeiro, seu predileto: "Já entrou Zé, já entrou?" e o inocente responde: "calma que ta entrando dotô!" Como era de costume seu, tratamento igual para com todos, a pergunta seguiu tambem a bem vindo para este não enciumar:
"Já entrou Bem vindo, já entrou?" Mas Bem vindo, bicho desconfiado, silenciava. O Dr então estranhava: "O bem vindo! Não escuta não??" Meio acabrunhado Bem vindo quebra o silêncio: "Óia Dotô, o Zé disse aqui que sim, mas eu memo não tô sentindo nada. to na torcida pra que tenha sido memo é na mula!"

Saudades meu avô! Que Deus o tenha assegurado um bom lugar!

Crônica de um dia na roça - causo contado pelo Lolô num bate papo as 6hs da manhã enquanto a padaria não abre aqui em Formoso

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Crônica de uma cansativa tarde de política

Chegará o dia
em que candidatos a cargos públicos não mais precisarão estuprar os ouvidos de seus eleitores com insistentes propagandas ruidosas e barulhentos carros de som, pois seus nomes e feitos serão já tão conhecidos e acreditados que tornarão esta abominável prática desnecessária.
Chegará o dia
que não mais fogos de artifícios subirão aos céus em vão, perturbando o silêncio e quebrando a santa paz bucólica de uma tarde, espantando e afugentando inocentes animais irracionais e racionais com esse barulho repugnante e dispensável.
Chegará o dia
em que a paisagem do campo permanecerá intocada e serena como outrora, sem o dispêndio da poluição visual de máscaras e rostos (des) conhecidos, que não precisarão mais de cartazes ou faixas que tanto empobrecem e enfeiam nossos caminhos.
Que saudades dos Tempos medievais.
onde as eleições de nossos edis vereadores eram feitas através dos "pelouros da vereança". Os pelouros eram bolas de cera dentro das quais colocavam-se os papéis com os nomes dos candidatos à vereança. As bolas de cera eram colocadas dentro de uma espécie de caixa de madeira e daí sorteada uma que escolheria o vencedor do cargo. Estes tinham que ser os chamados "homens bons" . Mesmo porque os vereadores não recebiam qualquer remuneração por seu trabalho. Considerando-se que eram pessoas abastadas, poderiam  trabalhar pelo bem público sem usufruir do cargo qualquer pagamento em espécie, comportamento absolutamente distante de nossos atuais magistrados e candidatos.
E o que dizer da sujeira que se acumula nas ruas? Sonho com menos "santinhos" voando aos ventos pelos coretos e calçadas, deteriorando-se nos quintais, expostos e explícitos nas praças...
Serão estes, tempos de mais árvores, e menos papel! mais silêncio, e menos fofocas; mais verdades, e menos mentiras; mais empenho, e menos promessas; mais clareza, e menos sujeira; prática esta, que a máxima se estenderá ao futuro ofício.
E assim senhoras e senhores, em tempos onde "Less will be more", creio eu, na esperança que meu voto será então válido, e que estarei de fato, apoiando as verdadeiras práticas e intenções do tão sonhado compromisso com o "bem estar público".
Chegará o dia...

C. Lauro Maia Cavalcanti
Cidadão Apolítico??

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Dias de roça!

ontem fui as pressas ao dentista em Bananal para resolver um probleminha básico e encontrei alguns personagens tipicamente caipiras no consultorio do Dotô aguardando pela sua hora da consulta. Depois de uma boa prosa sobre a Bocaina e vales desses cantões, passamos a conversa dos problemas dentarios...a maioria do pessoal ali ia arrumar a dentadura e eu, graças a escova de dentes, ainda não cheguei a esse patamar. Disse aos meus amigos na prosa que só ia arrumar o dente e o pessoal falou que não adianta nada isso que depois o dente volta a doer de novo. Que o certo é arrancar mesmo! segundo eles:
"meu fio, a gente já nasceu sem dentes, não é mesmo??""